Como escolher as plantas de cobertura: confira dicas da Epagri

Onde se pratica o plantio direto, depois da colheita é hora de as plantas de cobertura assumirem a área de cultivo. Essas plantas, também conhecidas como adubos verdes, têm o papel de proteger a superfície e melhorar as condições químicas, físicas e biológicas do solo, beneficiando as culturas comerciais. Mas para escolher a espécie adequada a cada situação, é preciso prestar atenção a uma série de fatores. Confira as dicas dos profissionais da Epagri:

Necessidades da cultura comercial

Cada espécie de planta de cobertura pode ter efeitos diferentes sobre as culturas implantadas na sequência. O engenheiro-agrônomo Lauro Krunwald, extensionista da Epagri de Atalanta, aconselha que se leve em consideração o fator mais limitante na produção da cultura comercial. “Se eu trabalho com uma cultura altamente exigente em nitrogênio, como o milho, é interessante que entre as culturas que estão nessa área haja alguma leguminosa, pois elas são fixadoras de naturais de nitrogênio”, explica. Alguns exemplos de leguminosas são o tremoço, as ervilhacas, a ervilha forrageira, as mucunas, o feijão de porco e o guandu anão.

No caso da fruticultura, por exemplo, a situação é diferente. “Se houver muita fixação de nitrogênio no solo, isso poderá aumentar a incidência de doenças na videira e diminuir o grau brix da uva”, cita o extensionista. Ainda nos pomares, é preciso analisar se a florada da planta de cobertura pode competir com a florada da cultura principal, já que as fruteiras dividem a área com as espécies de cobertura. Nos pomares catarinenses, a aveia preta, o nabo forrageiro e consórcios de aveia preta com ervilhaca ou com nabo são as plantas de cobertura mais comuns.

Tremoço produz bastante massa seca e é capaz de fixar nitrogênio no solo

Produção de fitomassa

Em um solo com baixo teor de matéria orgânica, a dica de Lauro é incluir plantas de cobertura que fixam maior quantidade de carbono em menor tempo e que tenham raízes agressivas e profundas e bastante massa seca, como milheto, capim sudão, braquiária, nabo forrageiro ou tremoço. “Ao longo de anos teremos um solo com características físicas talvez muito parecidas com as originais após a retirada da mata nativa”, diz o extensionista.

Características da planta de cobertura

É fundamental conhecer o comportamento da planta de cobertura antes de levá-la a campo. O pesquisador Leandro do Prado Wildner, do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Epagri/Cepaf), cita características importantes para observar na hora da escolha: “Velocidade de crescimento inicial, eficiência na cobertura do solo, capacidade de reciclagem de nutrientes, sistema radicular profundo e bem desenvolvido, elevada produção de fitomassa, resistência à seca, resistência à geada, baixo nível de ataque de pragas e doenças, tolerância à baixa fertilidade, capacidade de adaptação a solos degradados e não ter comportamento de invasora”, destaca.

Época de semeadura

Existem plantas de cobertura mais indicadas para cultivo no verão e outras para o inverno. “No entanto, usamos essa denominação apenas para identificar as espécies, uma vez que a época de plantio ocorre a partir do momento em que o solo não se encontra cultivado com uma cultura comercial. Em função do tamanho dessa janela e da próxima cultura é que o agricultor vai escolher a planta de cobertura”, explica Leandro.

Mucuna é uma planta de cobertura de verão

Espécies de verão

As plantas de cobertura de verão podem ser semeadas de meados de setembro até dezembro (onde não há risco de geada, o período pode se estender até o fim do verão). Elas são cultivadas, preferencialmente, entre a colheita da cultura de verão (primeira safra) e a semeadura da cultura de inverno. “É o período chamado de janela outonal, no qual o solo tem ficado descoberto, sendo tomado por inços, perpetuando pragas e doenças e sofrendo sérios problemas de erosão por causa das chuvas intensas do período”, ressalta Leandro.

As espécies de verão mais comuns são as mucunas, as crotalárias, feijão-de-porco, guandu anão, caupi ou feijão miúdo, teosinto, milheto, capim sudão, sorgo e trigo mourisco.

Espécies de inverno

São chamadas de plantas de cobertura de inverno as semeadas desde o fim do verão (início de março) até o início do inverno (junho). As principais são aveia preta, aveia branca, centeio, azevém, tremoço branco, tremoço azul, ervilha forrageira, ervilhaca comum, ervilhaca peluda, gorga e nabo forrageiro.

Ervilha forrageira é planta de cobertura de inverno

Capacidade de manejo

De nada adianta a planta de cobertura ter as características desejadas se o produtor não tem condições de manejá-la adequadamente. No caso de plantas que produzem bastante massa seca, é preciso ter equipamentos adequados para acamá-las e implantar os cultivos em sucessão. “É importante saber se o produtor tem as ferramentas para colher, armazenar e semear adequadamente cada tipo de planta de cobertura”, acrescenta Lauro. Outro fator importante é a capacidade de produzir sementes em quantidade suficiente para aumentar a área de cultivo.

Produtor precisa analisar se tem equipamentos adequados para manejar as plantas de cobertura

Coloque na balança

O pesquisador Leandro pondera que, apesar de tantas características a serem observadas, dificilmente uma única espécie vai atender a todos os critérios. Por isso, vale colocar os prós e contras na balança. “Em função da espécie de adubo verde disponível na propriedade ou no mercado próximo, do sistema de produção e da condição do agricultor, deve-se considerar somente alguns desses critérios”, explica.

Busque orientação

A Epagri orienta agricultores de todas as regiões de Santa Catarina a cultivar plantas de cobertura para proteger e melhorar as condições do solo. Se precisar de ajuda para selecionar espécies ideais para sua área de cultivo, clique aqui para encontrar o escritório da Empresa no seu município.

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Esta notícia foi autorizada para publicação.

Créditos: Gisele Dias – Assessoria de Comunicação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI)

O que são plantas de cobertura ou adubos verdes: conheça as vantagens

Plantar para melhorar o solo – esse é o princípio do uso das plantas de cobertura, também conhecidas como adubos verdes. De acordo com o engenheiro-agrônomo Lauro Krunwald, extensionista da Epagri de Atalanta, planta de cobertura pode ser qualquer espécie cultivada com o objetivo de melhorar as condições físicas, químicas e biológicas do solo.

Plantas de cobertura melhoram as condições químicas, físicas e biológicas do solo

O pesquisador Leandro do Prado Wildner, do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Epagri/Cepaf), acrescenta que essas plantas são semelhantes a qualquer espécie cultivada com fins comerciais. “O diferencial é que elas nascem, crescem, morrem e permanecem no mesmo lugar para beneficiar o local de produção e as plantas que serão cultivadas no seu lugar”.

Plantio direto

O uso das plantas de cobertura é um dos pilares do Sistema Plantio Direto. Depois de completar o ciclo vegetativo, elas são derrubadas e ficam sobre o solo, formando uma camada de palha. Na sequência, o plantio das culturas é feito sem revolver o solo.

As plantas de cobertura podem ser usadas em qualquer lavoura, sempre em sistema de rotação com as culturas econômicas. “A recomendação é que na sequência imediata de uma colheita seja feito outro plantio, de preferência com plantas de outras famílias”, orienta o extensionista Lauro. As espécies mais utilizadas em Santa Catarina são aveia, nabo forrageiro, azevém, ervilhaca, crotalária, mucuna, tremoço, centeio, milheto e trigo, entre outras.

Uso de plantas de cobertura é um dos pilares do plantio direto

Confira alguns dos benefícios do uso dessas plantas na lavoura:

Combate à erosão

A presença das plantas de cobertura, tanto vivas quanto na forma de palha, é capaz de evitar a temida erosão do solo. “Elas funcionam como uma camada protetora que evita o impacto direto das gotas de chuva sobre o solo”, explica o pesquisador Leandro.

Fauna benéfica

A fauna que vive na superfície e nas camadas superiores do solo encontra abrigo e alimento nas plantas de cobertura. “A palha, levada para dentro do solo sob a forma de pequenos pedaços cortados pela fauna, é fonte de alimento para a meso e a microfauna e outros microrganismos, como fungos, bactérias e actinomicetos”, diz Leandro. O extensionista Lauro Krunwald acrescenta que o equilíbrio entre essas formas de vida também reduz problemas com pragas e doenças.

Camada de palha formada por plantas de cobertura reduz a erosão e funciona como isolante térmico

Matéria orgânica

As plantas de cobertura são a matéria-prima para formar a matéria orgânica que promove a estruturação do solo, a retenção de umidade e o aumento da porosidade, permitindo a circulação de água e ar. Também são fonte de nutrientes que são liberados através da decomposição promovida pelos organismos do solo.

Isolante térmico

Outra vantagem das plantas de cobertura é impedir que os raios solares atinjam a superfície do solo. “Esse aumento da temperatura traz sérios problemas de ordem fisiológica às plantas e coloca em risco a sobrevivência dos organismos do solo”, detalha o pesquisador. Evitando a elevação da temperatura, também se reduz a evaporação da água do solo – assim, a umidade se mantém para atender às necessidades das plantas.

Compactação

A camada de palha funciona como um amortecedor contra o peso excessivo de máquinas, tratores e animais, diminuindo o risco de compactação superficial do solo. As raízes vigorosas de muitas plantas de cobertura também impedem a formação de camadas compactadas no interior do solo.

Tremoço é uma das espécies mais usadas em Santa Catarina

Papel das raízes

As raízes das plantas de cobertura aumentam a porosidade do solo, facilitando a infiltração de água. “Por terem raízes mais profundas, elas trazem os nutrientes de camadas profundas para a superfície do solo. Esses nutrientes são colocados à disposição das culturas que trazem renda aos agricultores”, diz Leandro.

Nitrogênio

O nitrogênio é um nutriente fundamental para a maioria das culturas agrícolas. Ele está presente na atmosfera e as plantas são as únicas responsáveis na natureza por incorporá-lo ao solo. “As plantas da família das leguminosas, ou Fabaceae, têm a capacidade de fixar nitrogênio do ar no solo por meio da simbiose com bactérias do solo”, explica o extensionista Lauro.

“Já se sabe que outras plantas também têm essa capacidade – exemplo disso é o próprio milho e outras gramíneas. Dessa maneira, os microrganismos do solo retiram o nitrogênio do ar, transformam-no em substâncias orgânicas e repassam às plantas que as incorporam ao seu tecido vegetal”, acrescenta o pesquisador Leandro.

Plantas daninhas

Impedindo que os raios solares atinjam a superfície do solo, as plantas de cobertura reduzem o potencial de germinação das sementes de plantas daninhas. A palha ainda funciona como barreira física ao crescimento dessas plantas. “As plantas de cobertura também competem por água, luz e nutrientes com as plantas daninhas – algumas crescem muito rapidamente e acabam abafando as plantas daninhas”, acrescenta Leandro.

O cultivo de plantas de cobertura pode ajudar a reduzir pragas e doenças na lavoura

Herbicida natural

Durante a decomposição da palha, são liberados alguns compostos orgânicos que têm potencial de inibir a germinação das sementes ou o crescimento das espécies daninhas – ou seja, funcionam como verdadeiros herbicidas. “Compostos orgânicos presentes na palha de algumas espécies já foram isolados e deram origem a novos herbicidas”, conta o pesquisador.

Pragas e doenças

O cultivo dessas plantas ainda pode ajudar a reduzir pragas e doenças na lavoura. É que muitas plantas de cobertura, por não serem atacadas pelas mesmas pragas ou doenças das culturas comerciais, acabam interrompendo o ciclo de vida desses agentes e reduzindo a presença deles na lavoura.

Controle biológico de pragas

A crotalária pode ser usada para controlar nematoides que atacam culturas como a soja, o fumo e a cebola. Essa planta permite que o nematoide penetre em suas raízes, mas não permite que ele se reproduza.

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Esta notícia foi autorizada para publicação.

Créditos: Gisele Dias – Assessoria de Comunicação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI)