Milhos desenvolvidos pela Epagri resistem à estiagem e ganham confiança dos agricultores

A pouca chuva ocorrida entre o fim de 2019 e o início de 2020 em algumas regiões de Santa Catarina causou uma perda de 7,7% na safra estadual de milho, segundo estudo do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Epagri (Epagri/Cepa). Mas, para aqueles que apostaram nos milhos Variedade de Polinização Aberta (VPA) da Epagri, a situação é mais tranquila. É que estes materiais, melhorados geneticamente pela pesquisa da Epagri, apresentaram boa resistência à estiagem, aliada à boa produtividade e a um excelente custo-benefício. O resultado é mais dinheiro no bolso do agricultor familiar que investiu na compra de sementes de milho VPA para esta safra.

É o caso do Zênio Genésio Szostak, de Irineópolis. Ele usou 50k de semente do milho Fortuna para cultivar 2,5 hectares e comemora. O agricultor conta que, apesar da pouca chuva, as espigas apresentaram preenchimento normal de grãos. “Até na pontinha tem semente perfeita”. Na comparação com outro milho que Zeno plantou na mesma área, o Fortuna não deixa dúvidas. “Da metade pra ponta (do outro milho) a colhedeira não vai conseguir arrancar a semente, de tão miudinha que deu”.

Foto: Milho VPA Epagri. Crédito Nilson Teixeira

Testemunho parecido vem do Renan Daniel de Oliveira, de Rio do Oeste, que plantou o Catarina. Ele garante que, apesar da pouca chuva no período da floração, não sofreu grandes perdas na sua plantação, principalmente quando comparou seus resultados com o do vizinho, que optou por semente híbrida.

O César Dalprá, de Lontras, também está satisfeito. Ele plantou o Colorado, que enfrentou a estiagem e respondeu muito bem depois da chuva. Na propriedade dos Dalprá, o milho VPA da Epagri também impressionou pelo bom rendimento na alimentação dos animais. “É um milho excelente para o trato dos animais, rende muito mais que os transgênicos. Por exemplo, onde usamos 2k de transgênico para tratar (alimentar animais), com este usamos 1,5k”, relata o agricultor.

Vantagens

O bom resultado dos milhos VPA da Epagri no enfrentamento à estiagem vêm de sua grande plasticidade genética. Uma planta é geneticamente diferente da outra, o que significa que ele pode sofrer com variações climáticas, doenças e pragas, mas apresenta maior estabilidade que o híbrido, evitando perdas maiores de safra. No caso dos híbridos, como as plantas são geneticamente muito parecidas, terão reações similares a situações de estresse, gerando perdas maiores no caso de ocorrência desses imprevistos.

Desde 2006 o Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar da Epagri (Epagri/Cepaf) lançou três milhos variedade de polinização aberta: o SCS154 Fortuna, o SCS155 Catarina e o SCS156 Colorado. Eles são resultados de mais de uma década de cruzamentos feitos a campo pelos pesquisadores.

Para se chegar aos milhos VPA, os pesquisadores da Epagri escolheram grãos de plantas com as características que desejavam reproduzir. Essas sementes foram cultivadas num mesmo espaço e foram se cruzando naturalmente. Ao longo de seis ou sete gerações as espigas melhores foram selecionadas até que se chegou a uma nova variedade de polinização aberta. “Assim, um novo cultivar é resultado de um minucioso trabalho que envolve basicamente três etapas: a escolha dos progenitores (pais), os cruzamentos entre progenitores e a seleção dos melhores ‘filhos’ resultantes dos cruzamentos”, explica Felipe Bermudez Pereira, melhorista genético de milho na Epagri/Cepaf.

Importante ressaltar que o milho VPA é diferente do transgênico e do híbrido. Bermudez esclarece que o híbrido é resultado de cruzamentos previamente definidos. As suas plantas são geneticamente mais homogêneas, o que resulta em lavouras mais regulares em relação a suas características, como altura, resistência a doenças, produtividade e ciclo. Já as transgênicas são sementes que receberam materiais genéticos de outros vegetais ou animais para apresentarem características desejadas, como resistência a certa praga, doença ou condição climática. O VPA também se difere das sementes crioulas, que são populações manejadas e reproduzidas tradicionalmente pelos agricultores ao longo dos anos, sem terem sofrido processo convencional de melhoramento genético.

Foto: Milho VPA Epagri

O bom custo-benefício da semente VPA é outro atrativo para o agricultor familiar. As sementes de milhos híbridos são desenvolvidas pela indústria para oferecer maior produtividade no campo. Mas, para dar os resultados esperados, elas dependem de investimento em tecnologia. É preciso que o agricultor esteja disposto a gastar com adubação e defensivos. Sem capacidade de investir o montante necessário em tecnologia, os agricultores familiares não conseguem extrair todo o potencial dos híbridos, resultando em produtividade abaixo do esperado. Somam-se a esta vantagem o menor custo da saca da semente VPA e a possibilidade de o próprio agricultor produzir suas sementes por até três safras sem correr o risco de perder as características da planta.

Relatos

A comprovação da qualidade dos milhos VPA da Epagri se estende por Santa Catarina nos relatos colhidos pelos técnicos da Epagri. Elvys Taffarel, extensionista da Gerência Regional da Epagri em São Miguel do Oeste, conta que nos municípios de Riqueza, Itapiranga, Dionísio Cerqueira, Palmitos e Guaraciaba, os resultados são bastante satisfatórios. A produtividade média gira em torno de 100 a 130 sacas/ha, e os agricultores destacam o baixo investimento na lavoura.

Na Gerência Regional da Epagri em Xanxerê o sucesso se repete. O extensionista Marcelo Henrique Bassani revela que Gilmar Baldissera, agricultor familiar de Faxinal dos Guedes, alcançou com o milho VPA produtividade de 150 sacas/ha no grão e 50 ton/ha para silagem. O técnico da Epagri observa uma produtividade média de 130 a 140 sacas/ha na região e de 30 a 40 ton/ha para silagem. “Nosso milho tem produtividades menores, comparadas a híbridos (Xanxerê média de 200 sacas/ ha), porém apresenta custo de produção bem menor e estabilidade de produção, caso ocorra uma estiagem”, declara Bassani.

Eduardo Neves Vieira, extensionista da Epagri em Irineópolis, destaca que a demanda pelos milhos da Epagri no município se deu em função dos problemas de qualidade que existem nos similares disponíveis no comércio. Os agricultores locais foram atraídos pela excelente resistência a doenças, bom desempenho em relação à estiagem, além da produção com alta qualidade e custo baixo. A baixa qualidade de híbridos e transgênicos na alimentação de suínos e galinhas domésticas foi decisiva na opção dos agricultores pelos milhos da Epagri.

“Também, a maioria dos agricultores familiares planta tabaco e gostou do ciclo do Fortuna, que é plantado antes de começar a colheita do tabaco e colhido entre março e maio, após a colheita, seleção e comercialização do produto, com qualidade incomparável com nenhum milho disponível no comércio e submetido às mesmas condições de clima, época de plantio e colheita. Ou seja, se adapta perfeitamente ao estilo de trabalho do fumicultor que deseja criar animais domésticos para carne e ovos”, relata o extensionista.

Ampliação

A satisfação dos agricultores que optaram pelo milho VPA da Epagri fica clara na intenção de repetir ou ampliar a experiência de cultivo na próxima safra. César Dalprá, que já estava cansado de cultivar transgênico, garante que na próxima safra vai plantar novamente o Colorado e já tem planos de testar o fubá na fábrica de biscoitos. “Parece prometer um bom resultado, esperamos para ver”, afirma o agricultor.

Renan Daniel de Oliveira vai aumentar de um para quatro ou cinco hectares a área de cultivo do Catarina na sua propriedade em Rio do Oeste. Em irineópolis, o Zeno segue apostando no Fortuna. “Da próxima vez, vou pegar mais”, garante ele. “Não me arrependi até hoje, vamos ver pra frente, como vai se sair, mas fiquei surpreso com o milho”, conta, satisfeito, o agricultor.

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Esta notícia foi autorizada para publicação.

Créditos: Gisele Dias – Assessoria de Comunicação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI)

EPAGRI LANÇA SEU SEXTO CULTIVAR DE FEIJÃO, O SCS206 POTÊNCIA


A alta produtividade é uma das principais características do feijão SCS206 Potência. O novo cultivar da Epagri apresentou produtividade 11% superior às duas testemunhas em todos os locais avaliados em três anos de cultivo. Comparando o rendimento de grãos em relação aos cultivares Uirapuru e BRS Campeiro, apresentou produtividade superior de 116,52% e 106,02% respectivamente. A resistências das plantas à antracnose é outro aspecto importante do novo material genético.

O SCS206 Potência é um feijão preto, recomendado para cultivo nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Foram necessários 15 anos de estudos do Programa de Melhoramento Genético de Feijão (PMGF) da Epagri/Cepaf para chegar ao Potência.

Foto: Feijão Potência

O feijão tem a terceira maior área semeada entre grãos no Brasil, com mais de 3 milhões de hectares cultivados. A Região Sul é responsável por mais de 40% da produção total e mais de 96% da produção de feijão-preto no país. Os agricultores familiares respondem por 70% da produção nacional. Em Santa Catarina, o feijão é cultivado em todas as regiões, com destaque para os Planaltos Norte e Serrano na safra e para o Oeste e o Litoral Sul na safrinha.

Foto: Feijão Potência

Essa leguminosa é uma das mais importantes fontes de proteína vegetal, cálcio, ferro, fósforo e vitaminas do complexo B para humanos, sendo considerada um alimento de segurança alimentar para os brasileiros. A preferência dos consumidores brasileiros é pelo feijão-carioca, porém, os três estados do Sul e o Rio de Janeiro preferem feijões do grupo preto.

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Esta notícia foi autorizada para publicação.

Créditos: Gisele Dias – Assessoria de Comunicação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI)

ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DA EPAGRI EM ITUPORANGA COMEMORA 35 ANOS COM LANÇAMENTO DE CEBOLA RESISTENTE A DOENÇAS E PRAGAS

A Estação Experimental da Epagri em Ituporanga (EEItu) lança o seu nono cultivar de cebola, o SCS379 Robusta, em evento de comemoração dos 35 anos de fundação da unidade de pesquisa e dos 28 anos da Epagri.

Cebola Robusta

A EEItu desenvolveu a cebola SCS379 Robusta para ser um cultivar mais tolerante às pragas e doenças, o que lhe proporciona menor necessidade de utilização de agrotóxicos e maior produtividade no cultivo convencional, orgânico ou agroecológico.

Fonte: Cebola

A SCS379 Robusta é tolerante ao míldio, a principal doença dos cultivos de cebola no Sul do país. “Com a menor severidade da doença, o cultivar é mais produtivo que o padrão, sendo uma excelente opção para todos os sistemas de produção: convencional, Sistema de Produção Direta de Hortaliças (SPDH), produção integrada, orgânico e agroecológico” explica Daniel Pedrosa Alves, gerente da EEItu e um dos pesquisadores responsáveis pelo desenvolvimento do cultivar.

O ciclo superprecoce da Robusta é outra vantagem. Ele permite que a planta seja semeada por volta de 15 de abril e colhida já a partir de 20 de outubro. Assim, ela foge dos meses mais quentes do ano, quando o ataque do tripes – principal praga que ataca as plantações – é mais intenso. Para se ter uma comparação, a bola precoce, o cultivar mais plantado em Santa Catarina, tem ciclo que vai do início de junho até por volta de 20 de novembro.

Foto: Plantação de cebola

Foram necessários cerca de 15 anos de pesquisas, desenvolvidas por engenheiros-agrônomos mestres e doutores da EEItu, para oferecer ao produtor catarinense o cultivar de cebola SCS379 Robusta. O trabalho atende a uma necessidade latente da agricultura catarinense, já que Santa Catarina é o maior produtor nacional de cebola e a hortaliça é cultivada basicamente por agricultores familiares. O Alto Vale do Itajaí reponde por mais de 70% da produção do Estado.

35 anos da Estação

O lançamento do novo cultivar de cebola vai servir para comemorar os 35 anos de fundação da EEEItu. A unidade de pesquisa nasceu antes da Epagri e era ligada à Empasc, empresa então responsável pela pesquisa agropecuária no Estado. Sete anos depois, a Empasc se uniu a outras instituições para fundar a Epagri, de cuja estrutura a EEItu passou a fazer parte.

Nos seus 35 anos de história, a EEItu vem atuando com forte foco na cebola, principal cultura da região. Nesse sentido, são trabalhados o melhoramento genético da planta visando à resistência a doenças e pragas, a produção orgânica, o desenvolvimento de cultivares híbridos adaptados às condições do Alto Vale do Itajaí, a implantação do Sistema de Produção Integrada de Cebola (SISPIC), tecnologias para o uso eficiente de nutriente e manejo do solo e o manejo convencional e alternativo de doenças.

Além da cebola, a unidade de pesquisa também atua no melhoramento genético da batata-doce, tendo desenvolvido seis cultivares, sendo três em conjunto com a Estação Experimental da Epagri em Itajaí. Sempre pensando na sustentabilidade, os pesquisadores da unidade desenvolvem tecnologias de manejo para o cultivo de hortaliças em ambiente protegido, tecnologias para racionalizar o uso de insumos e homeopatia, além de manejo convencional e ecológico de insetos praga.

28 anos da Epagri

O evento integra a programação comemorativa dos 28 anos de fundação da Epagri. A série de eventos de aniversário da Empresa segue por todo o Estado durante novembro, com lançamento de tecnologias, Dias de Campo, seminários, atividades de educação ambiental e outras, que vão apresentar à sociedade um pouco do trabalho desenvolvido nestas quase três décadas de extensão rural e pesquisa agropecuária em Santa Catarina.

O Estado catarinense foi o primeiro, e até hoje é um dos únicos, a reunir numa empresa os serviços de pesquisa agropecuária e extensão rural. A partir desse ato de ousadia e inovação se construiu uma história de sucesso. Hoje a Epagri é referência nacional e internacional em pesquisa e extensão rural. O conhecimento que produz é empregado não só em benefício dos catarinenses, mas também repercute no Brasil e no exterior.

Os cultivares de arroz, por exemplo, são utilizados em diversos países. O Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), criado e difundido pela extensão rural da Epagri, hoje é modelo de agricultura sustentável em nível nacional e internacional. Já existe maçã desenvolvida pela Epagri que pode ser produzida e vendida na União Europeia com royalties revertidos para Santa Catarina.

O sucesso da Epagri nesses 28 anos de existência se reflete na força do agronegócio catarinense. Santa Catarina é líder nacional na produção de maçã, cebola, moluscos e suíno, tem a segunda maior produtividade de arroz irrigado do país, é a quarta maior produtora de leite e de mel do Brasil, tudo isso ocupando apenas 1,1% do território nacional. Grande parte desse resultado se deve ao trabalho da Epagri, que com apoio e confiança dos agricultores, vem inovando para uma agricultura cada vez mais sustentável.

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Esta notícia foi autorizada para publicação.

Créditos: Cinthia Andruchak Freitas – Assessoria de Comunicação da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI)