Produção de mel é uma estratégia de produção familiar sustentável na área rural de Sobradinho, DF.
Nesta matéria, Bruno Ferreira Uchoa compartilha a história da propriedade e a ampliação da produção de mel e diversificação dos produtos na Região Administrativa de Sobradinho no Distrito Federal. O Portal o Extensionista convida-os para lerem essa reportagem.
A HISTÓRIA
A família Uchoa possui uma propriedade de aproximadamente sete hectares , desde 1989, reside no Lago Oeste na área rural de Sobradinho – Região Administrativa do Distrito Federal.
O casal é formado por Cristina Maria de Lemos Ferreira, natural do Rio de Janeiro, já falecida, e Antônio Uchoa Pinheiro, natural de Belém do Pará. Cristina e Antonio tiveram dois filhos, sendo um deles, Bruno Ferreira Uchoa, além dos provenientes de casamentos anteriores. O pai de Bruno, Antônio, já havia desenvolvido atividades na área rural como a realização de plantios e criação de animais, o que estimulou Bruno em seguir o mesmo ramo de atividade do pai.
A família mudou-se quando Bruno tinha apenas cinco anos de idade, sendo assim, ele cresceu com a vivência da lide no campo e as experiências do meio rural, mas sempre indo à Brasília para estudar e trabalhar, atuando boa parte da vida como autônomo. Hoje, Bruno Ferreira Uchoa tem 36 anos de idade, casou-se com Luciana Chaves Simoes de Oliveira e tem três filhos: João Ribeiro Uchoa, Iana de Oliveira Uchoa e Luis de Oliveira Uchoa.
No ano de 2012, Bruno iniciou um estudo sobre a técnica de plantio de agrofloresta como um hobby, cujo intuito era cultivar alimentos de qualidade e sem agrotóxicos para a família. Este estudo foi o início de todo o processo de plantio de agrofloresta na propriedade.
O sistema agroflorestal consiste no plantio sustentável, conciliando a recuperação da fertilidade de solos, a redução da erosão e a produção de alimentos. Durante a implantação do sistema agroflorestal, Bruno passou por dificuldades que o fizeram adiar por um período o seu projeto. Além disso, um incêndio comprometeu a área já plantada, causando prejuízo tanto financeiro quanto ambiental.
Para Bruno, a conciliação entre o serviço e o hobby na propriedade não estava sendo possível, sendo assim, foi necessário fazer uma escolha, ou seja, optar entre dedicar tempo ao trabalho ou à propriedade. Dessa maneira, Bruno optou por dedicar tempo ao trabalho deixando o hobby na propriedade em segundo plano.
A BUSCA POR CONHECIMENTO
Em 2017, Bruno realizou alguns cursos nos quais percebeu a ausência da polinização na produção dos frutos em sua propriedade. Assim, também começou a criação de abelhas nativas do cerrado na sua unidade de produção agrícola.
As espécies de frutas cultivadas no local tiveram uma ótima resposta à polinização realizada pelas abelhas. Isso envolvia a produção de banana, abacate, manga, acerola, pitanga, jambo, jaca, amora, jabuticaba, limão, laranja, goiaba e mamão. De início, a criação de abelhas nativas teve como objetivo a polinização das árvores frutíferas da propriedade e, com o tempo, começou a surgir a demanda por mel, inicialmente dirigida aos amigos e familiares mais próximos.
Nesse sentido, percebeu-se a oportunidade de cultivar abelhas para comercialização de mel. As abelhas criadas na propriedade não possuíam ferrão, o que dificultava o suprimento da demanda pelo mel. Dessa maneira, Bruno começou a criar abelhas com ferrão e que produziram maior quantidade de mel. Esta estratégia foi fundamental para uma nova fase de produção e comercialização na propriedade.

A IMPORTÂNCIA DA DIVULGAÇÃO DO PRODUTO
Inicialmente, o mel era comercializado para os familiares e amigos mais próximos, sendo que este processo foi crescendo com a participação de Bruno em eventos e feiras, facilitando a disponibilização de seu produto em estabelecimentos maiores.
Mesmo participando de feiras, a família ainda não possuía a certificação do mel. Para divulgar seu produto em novos eventos, levava as caixas de abelhas sem ferrão. Para chamar atenção ao produto e conquistar os clientes, ele colocava sobre as caixas um vidro a fim de permitir uma melhor visualização das abelhas e da produção do mel. Esta estratégia de marketing agregou um know-how importante na comercialização do produto.
A partir do conhecimento do trabalho com as abelhas, Bruno começou a oferecer cursos específicos sobre abelhas sem ferrão, além de comercializar colônias de abelhas. Com isso, percebeu a necessidade de criação de uma empresa, tornando-se um microempreendedor individual. A família também revende produtos de outras propriedades da região e de alguns amigos com trabalho semelhante ao seu. Com a criação da empresa e a especialização na criação de mel e produção de abelhas, Bruno conseguiu que seus produtos se destacassem no mercado.
Bruno e sua esposa são responsáveis por grande parte das atividades realizadas na propriedade. A esposa de Bruno, a senhora Luciana Chaves Simoes de Oliveira, atualmente é funcionária pública e auxilia na propriedade nas horas vagas. Ela é responsável pela parte logística, controle financeiro e divulgação dos produtos. O filho mais velho de Bruno, João Ribeiro Uchoa, de 15 anos, auxiliou durante muito tempo nas atividades realizadas na propriedade. A propriedade conta com dois funcionários fixos e um diarista que realizam as atividades diárias.
A COMERCIALIZAÇÃO NA PANDEMIA E O AUXÍLIO DA FAMÍLIA
Por conta da pandemia do COVID-19, houve a necessidade de mudar a forma de comercializar os produtos. A Família Uchoa adaptou a comercialização para vendas online, por meio do aplicativo WhatsApp, além de divulgação no perfil @terraboaabelhas na rede social Instagram. Bruno é responsável pela produção e divulgação do material, sendo que a sua esposa também o auxilia, quando necessário.
Bruno e Luciana são responsáveis por grande parte das atividades realizadas na propriedade. Quando necessário conta com a participação do filho mais velho.
A PRODUÇÃO DE MEL COMO PRINCIPAL ATIVIDADE ECONÔMICA E O AUXÍLIO DA ASSISTÊNCIA TÉCNICA E GERENCIAL
A produção de mel é a principal atividade econômica da família há dois anos, quando decidiram retornar ao plantio de agrofloresta que tinha sido abandonada. Atualmente, contam com plantio direcionado de plantas que oferecem pólen, néctar e resina para as abelhas, sendo que essas plantas também são beneficiadas pela polinização. O maior benefício para a produção de mel refere-se à possibilidade de aumentar de 50% a 300% na produção.
No segundo semestre de 2017, Bruno começou a criar abelhas com ferrão para produção de mel. O resultado foi tão positivo que, ao final do ano, já havia cerca de 50 colônias. Atualmente, a propriedade conta com cerca de 200 caixas com colônias de abelhas Apis mellifera.
Nos últimos dois anos, Bruno tem recebido Assistência Técnica e Gerencial do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR/DF). No primeiro ano, a renda anual da propriedade foi em torno de 150 mil reais, obtida pelas vendas de produtos comercializados pela família.
A criação de abelhas ocorre também, em duas outras propriedades, ambas com áreas de cerrado preservado, onde foram realizadas as instalações de apiários e meliponários.
Além disso, Bruno não acessou nenhuma linha de crédito para investimento na propriedade, sendo que todo o aporte financeiro foi com capital próprio. A família tem se organizado para, em breve, acessar uma linha de crédito para investir na propriedade e acelerar o seu crescimento.

VARIEDADE DE ABELHAS PRESENTES NA PROPRIEDADE E A DIVERSIFICAÇÃO DE PRODUTOS COMERCIALIZADOS
São criadas cerca de 10 espécies de abelhas na propriedade, sendo a principal a abelha com ferrão Apis Mellifera (Europeia Africanizada). Entre as principais abelhas nativas criadas na propriedade são as espécies: mandaguari, jataí e mandaçaia.
Há uma grande variedade de produtos comercializados pela família, além do mel produzido na propriedade, tem o pólen, própolis e geleia real. Outra importante estratégia econômica na propriedade é a produção de hortaliças e frutas orgânicas.
A iniciativa da Família Ferreira Uchoa é mais um exemplo de sucesso em que a agricultura familiar, aliada a valorização dos atributos da Agroecologia, potencializa o fortalecimento da Agricultura Familiar, gerando renda e emprego. Além disso, gera a produção de alimentos socialmente seguros, amparados pelo equilíbrio entre a natureza, os agricultores e a sociedade. São iniciativas como essas que reforçam a diversidade da agricultura familiar e sua importância na produção de alimentos limpos para a sociedade.
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Esta notícia foi criada com incentivo do Programa de Bolsas de Apoio à Cultura e à Arte (Procarte) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Elaboração: Maria Eduarda Cardoso Ferrari (Bolsista)
Informações e revisão: Bruno Ferreira Uchoa
Fotos: Bruno Ferreira Uchoa
Revisão final: Prof. Dr. Ezequiel Redin; Romário da Silva Santana; Michele Weber Lorenzoni; Janice Queiroz de Pinho GonçalvesBruno Ferreira Uchoa